Baader-Meinhof Blues
Senti sua falta hoje. Agora há pouco, há dois minutos, e começei a chorar. Senti falta do encanto que havia, do deslumbramento que eu sentia, de como tudo começou.
Acho que foi a melhor fase, o melhor momento de todos. Quero conhecer alguém, quero sentir isso de novo, quero reviver com outra pessoa o que um dia foi bom com você. Mas ao mesmo tempo não quero te deixar sair da minha vida.
E busco pretextos, e procuro desculpas, e invento motivos para te manter perto de mim. E cada dia passa a ser uma conquista, os segundos que você me cede, as situações que eu milimetricamente planejo, um olhar de relance.
Quero mais para mim. Quero coisas inteiras. Mas não quero sem você. E enquanto isso espero. E me submeto a sua vontade, e finjo não me importar com as suas ações, e pareço ter perdido parte do amor que sentia.
Mas não perdi. Cada pessoa nova me traz a sua lembrança, exatamente pela diferença. Busco alguém igual a você. E de repente todas as suas características, as suas atitudes impensadas, o seu meio sorriso e a sua rabugice tornam-se o padrão de qualidade que eu inutilmente procuro. Nada é como você. Ninguém me faz sentir como você fazia. E então, nada mais serve para mim, a eterna imcompleta. Porque ainda tenho você. Mas não tenho totalmente.
Egoísta? Gananciosa? Por querer tudo, e não parte? Talvez. E talvez a palavra mais adequada seja obsessiva. Ou esperançosa. Porque ainda te vejo em tudo que eu faço, te ouço cantando ao meu ouvido, te olho com admiração até quando abre a boca para bocejar.
E ainda talvez porque ingenuamente acredite que você nunca irá ter alguém como eu.
(2001)